Resenha: Meu Vício - Kell Teixeira

"Você, provavelmente, vai rir disso. Acho que estou parecendo uma idiota e sempre fico assim perto de você."

Meu Vício é o primeiro livro da duologia Meu Vício, escrita pela autora Kell Teixeira. No livro vamos encontrar uma história bem realista e personagens que mexem com a cabeça do leitor.

Em Meu Vício, vamos conhecer Elena Tyner, uma garota bem comum que tem dezenove anos e é estudante de psicologia. Ela é filha de policiais, e por isso, recebeu uma educação tradicional e rígida. Elena é a típica nerd, sempre tira as melhores notas da sua turma, mas quando seu professor passa um trabalho individual sobre drogas ilícitas e pede aos alunos para entrevistarem um usuário, Elena começa a questionar se vai conseguir fazer. Ela nunca usou drogas e tem preceitos e preconceitos contra os usuários, além de sempre manter distância deles.

Maycon Sebastian é um estudante de medicina, ele nasceu em uma família rica, mas cheia de problemas. Ele é bem mimado e não gosta de seguir regras. Sua beleza chama atenção de todos, além da sua popularidade na faculdade. Até aí ele é um personagem normal, mas o problema é que Maycon é viciado em cocaína. Seus pais fizeram um acordo com ele, sua liberdade em troca da faculdade de medicina. No começo é difícil entender, seus pais deixam ele morar sozinho e ainda sustenta seu vício, mas depois entendemos que a situação é bem complicada e os julgamentos são precipitados.

Quando Maycon encontra Elena e descobre que ela está com dificuldades para concluir o trabalho, ele resolve ajudá-la dando a entrevista com respostas bem diretas e quando ela vai ler as respostas, ela leva um soco no estômago ao perceber que Maycon não é exatamente o que ela pensava, e é nesse momento que Elena se dá conta do tipo de pessoa que é, daquelas que julgam sem conhecer e sem entender a real situação.

"Geralmente, eu não corro atrás do que perco, seja amizade ou relacionamentos. Para mim não faz sentido correr atrás do que se perdeu. Isso é paranoico."

O contato dos dois não fica apenas na entrevista, de uma maneira rápida eles começam um relacionamento e o envolvimento deles é bem intenso. Maycon sabe que Elena não gosta de drogas e por isso ele não usa perto dela, e durante os encontros ela está sempre fazendo perguntas sobre o vício dele, e essas partes são bem interessantes. As respostas do Maycon são chocantes e me deixaram angustiada. Ele sabe de todos os riscos, e sabe que não vai ter um futuro porque a droga vai matar ele, e mesmo assim ele não tem vontade de largar, porque ele é dependente da cocaína, e isso vai muito além da sensação que ela proporciona, ele precisa usar pra viver.

Além da luta contra o vício, Maycon e Elena ainda precisam lidar com outros dramas. Elena tem um colega de quarto chamado Keven, e apesar dele ter uma namorada, Maycon sabe que ele é apaixonado por ela, e ainda tem os pais da Elena que não aceitam o relacionamento e menosprezam o Maycon. E por outro lado, a Elena precisa lidar com todo os julgamentos que recebe dos professores e alunos da faculdade, e ainda tem a família do Maycon, que é extremamente problemática. E temos a Jayde que mora junto com o Maycon e é a melhor amiga dele, ela também usa drogas, é uma pessoa bem durona e acha que Elena não é boa para o Maycon.

O relacionamento dos dois é cheio de altos e baixos, uma hora eles estão super bem, mas é questão de minutos para uma briga surgir. Os dois personagens são bem imaturos, principalmente a Elena, basta alguém falar um coisinha com ela a respeito de Maycon, e ela já desconfia de tudo. Mas acho que isso foi a intensão da autora, porque no decorrer do livro, é evidente que Elena amadureceu.

O livro é narrado em primeira pessoa e a maioria dos capítulos são narrados pela Elena, um capítulo pelo Keven, um pela Jayde e pouquíssimos pelo Maycon. A escrita da Kell é bem envolvente, ela criou um enredo com forte teor dramático e muito real. Do início ao fim, deu pra perceber que o livro foi bem elaborado, os fatos se encaixam perfeitamente e ele é muito bem escrito. A autora soube expressar com as palavras tudo que os personagens sentiam, e muitas vezes eu parei a leitura pra recuperar o fôlego porque era tudo muito intenso.

"Talvez seu futuro ao meu lado não lhe pareça muito promissor. Mas chego ao êxtase só de pensar em viver ao seu lado cada segundo." 

Eu já tinha lido outros livros com personagens viciados em drogas, mas nada se compra a Meu Vício. A autora não poupou detalhes, o livro tem momentos fortes e bem tristes mostrando a verdadeira realidade de uma pessoa viciada. E quando você acha que vai ficar tudo bem, que o Maycon vai conseguir sair da reabilitação e viver sem a cocaína, ele tem uma recaída. E eu fiquei com o coração na mão, eu queria acreditar que ele ia sair dessa, e toda vez que ele não conseguia, eu chorava de desespero não só por ele, mas pela família e pela Elena que apoiavam e também acreditavam nele.

Meu Vício vai muito além de mostrar o que a droga faz com a pessoa. A história se trate de aceitar o outro como ele é, e principalmente, apoiar e acima de tudo acreditar no outro. A diagramação do livro está simples mas eu gostei, no início de cada capítulo tem um título e já prepara o leitor para o que está prestes a ser narrado. A fotografia da capa retrata exatamente a questão que o livro aborda sobre o apoio, ela passa uma sensação de união, e eu amei a fonte do título quando eu vi pela primeira vez, mas durante as pausas que eu era obrigada a fazer na leitura, eu ficava passando a mão querendo que a sensação de ter um pó ali desaparecesse.

E é com muito orgulho que eu dou cinco estrelas para o livro. Meu Vício foi publicado pela Editora Bezz, e a continuação já está disponível em Ebook, e eu estou torcendo para em breve sair o livro físico.